domingo, 4 de janeiro de 2009


Já mencionei como a linguagem me falha. Falo a mesma língua das pessoas ao meu redor. Nós usamos as mesmas palavras. E embora eu combine essas palavras de forma diferente do que essas pessoas, elas compreendem muito bem o que digo. O problema não é verbal, mas cognitivo. Elas não compreendem a verdade que há por detrás das minhas palavras. Elas não percebem o alcance das minhas explanações. Elas usam este anteparo na cabeça que lhes impede de ver que a vida é um enigma. Quem sabe, talvez tenha sido cortada a ligação entre as duas metades do seu cérebro. Talvez isso me diferencie dos outros, talvez eu possua um órgão raro, uma anomalia. Se é esse o motivo do meu sofrimento, uma autópsia o trará à luz. Mas até lá ainda tem tempo, ainda tem um pouco de tempo...
Não pretendo de modo algum condenar meus semelhantes. Absolutamente não quero atacá-los pelas costas. Mas metade da minha vida eu dediquei à tentativa de despertar entendimento. E embora meu maior desejo fosse conscientizar meus semelhantes de que eles existem, sou considerado um histérico.
(Jostein Gaarder – “O Pássaro Raro”, página 118 e 119)

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