Os deuses condenaram Sísifo a incessantemente rolar uma rocha até o topo de uma montanha, de onde a pedra cairia de volta devido ao seu próprio peso. Eles pensaram, com alguma razão, que não há punição mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança. Se este mito é trágico, é porque seu herói é consciente. Onde estaria realmente sua tortura se a cada passo a esperança de prosperar o sustentasse? O trabalhador de hoje trabalha todos os dias de sua vida nas mesmas tarefas, e seu destino não é menos absurdo. Você já captou que Sísifo é o herói absurdo. Seus desdéns pelos deuses fizeram com que ele recebesse aquele inexprimível castigo no qual todo seu ser se esforça para executar absolutamente nada. Entretanto a felicidade e absurdo são dois filhos da mesma Terra. Eles são inseparáveis. Eu deixo Sísifo no pé da montanha! Sempre se acha sua carga novamente. Mas Sísifo ensina a mais alta honestidade, que nega os deuses e ergue rochas. Ele também conclui que está tudo bem. O universo, de agora em diante sem um mestre, não parece a ele nem estéril nem inútil. Cada átomo daquela pedra, cada lasca mineral daquela montanha repleta de noite, em si próprio forma um mundo. E a própria luta em direção às alturas é suficiente para preencher o coração de um homem. Deve-se imaginar Sísifo feliz.
O Mito de Sísifo
(Albert Camus)
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