sexta-feira, 19 de junho de 2009

Morte em Câmara de Gás

 1
Tão certa a morte
que inútil marcar-lhe
uma hora exata.
Gosto da lei em ser
exata
não
apenas certa.
*
Nenhuma razão
pra tanto amor
ao relógio, ao
necrológio.
A data é que lhe põe
(felina) uma gota
de fel em cada
minuto.
E o mata com uma
lentidão de faca.
*
A justiça, olhos
fechados como os
da noite.
A câmara de gás
talvez
menos vil
se à noite.
*
Na cela em que o
condenado
dorme
sem data
olhos fechados
como os da justiça.
*
2
Ao carr'asco
se evitaria
o asco
do seu nome.
*
In: RICARDO, Cassiano. Os sobreviventes: acompanhados de um poema circunstancial e de uma tradução. Pref. Eduardo Portella. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1971. p.67-68. Poema integrante da série Xilogravuras

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