sábado, 12 de setembro de 2009

It was pleasantly surprised...

(...) Os seus dedos esfregaram numa carícia elétrica o dorso da mão dele e se lhe fecharam em torno do pulso. - Onde está o pulso? – tornou a perguntar ao cabo de um momento. – Não o sinto em parte alguma. – Lucy tateava a pele macia à procura das pulsações da artéria. Walter sentia a carícia da ponta daqueles dedos, leves e palpitantes, um pouco frios, contra o seu pulso. – Acho que nem tens pulso... Creio que o teu sangue está estagnado. – O tom da voz dela era desdenhoso. “Que tolo!”, pensava Lucy. “Que desprezível bobalhão!” – Completamente estagnado – repetiu. E subitamente, com uma malícia repentina, cravou-lhe na carne as unhas pontudas e afiadas a lima. Walter soltou um grito de surpresa e de dor. – Tu mereces isto, – disse a rapariga. E riu-lhe na cara. Walter segurou-a pelos ombros e começou a beijá-la selvagemente. A cólera lhe tinha exacerbado o desejo: seus beijos eram uma vingança. Lucy fechou os olhos e se abandonou molemente, sem resistência. Sentiu brotar-lhe na epiderme toda, em pequenas antecipações de gozo, um formigamento bom que era como o adejar de mariposas tomadas de pânico. E de súbito dedos pontudos pareceram dedilhar, em pizicato, as cordas de seus nervos. Walter sentiu todo o corpo dela estremecer involuntariamente em seus braços, estremecer como se tivesse sido subitamente ferido. Beijando-a, ele ficou a pensar se Lucy esperava ou não que ele reagisse daquela maneira à sua provocação. Com ambas as mãos tomou-lhe do pescoço frágil. Seus polegares tocavam-lhe a traquéia. Walter fez uma pressão suave.
– Um dia – disse por entre os dentes cerrados – eu te hei de estrangular.
Lucy limitou-se a rir. Walter inclinou-se e beijou-lhe a boca que ria. O contato dos lábios do rapaz contra os seus produziu-lhe uma sensação fina, aguda, quase uma dor que trespassasse insuportavelmente. As mariposas agitadas esvoaçavam por sobre o seu corpo todo. Lucy não esperava de Walter aqueles ardores tão brutais e selvagens. Estava agradavelmente surpreendida.
*
(Contraponto, Aldous Huxley)

Um comentário:

  1. "O desejo exprime-se por uma carícia, tal como o pensamento pela linguagem."
    (Jean-Paul Sartre)

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