domingo, 7 de junho de 2015

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

(Vinícius de Moraes)

Um comentário:

  1. Doce e bela Borali, talvez não saibamos amar e como se deve amar... Talvez, conheceres meu asco e meu prelúdio, me ilude em compreensão... Sequer lutar de verdade, por nosso amor fictício, fisico e abalável será nosso fim. Cessou se o tempo de experiências, de pouco se dar e muito ter. De também não ter por inteiro, e, mesmo assim amar em cada momento... Há tempo para tudo ainda. Nossas almas pertence ao passado, de onde não sairemos vivos... Ou não sairemos sem o começo, do que foi é e permanece. Porque todo o resto é saudade e resignação...

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