sexta-feira, 1 de maio de 2009

Não há vagas


“O preço do feijão
não cabe no poema. O preço do
arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
*O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
*Como não cabe no poema
o operário que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
*– porque o poema, senhores,
está fechado:
‘não há vagas’
*
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira”
*
(Ferreira Gullar)

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